Por Cris Paiva, Consultora em Comunicação*
Para se tornar advogado, a sua jornada foi longa. Não é verdade? Primeiro, você se esforçou para ingressar em uma faculdade. Passou cinco longos anos se dedicando ao curso. Foram muitos estágios durante o caminho. Você se especializou, se atualizou e se recicla dia após dia. Você já conhece todos os desafios que a profissão impõe. E para executar tantas atividades, a comunicação eficaz se desponta como uma ferramenta essencial e estratégica para o seu desempenho profissional.
Como desenvolver uma comunicação mais eficaz em seu trabalho e no relacionamento com os clientes?
Foi pensando nisso que eu trouxe 5 dicas valiosas para você acertar em cheio na hora de se comunicar. São orientações preciosas para você extrair o seu melhor nas relações interpessoais e fazer a comunicação trabalhar a seu favor.
1- Gere conexão
Conectar-se de maneira eficiente, autêntica e verdadeira com os seus clientes, colegas de profissão, juízes, promotores, parlamentares é o primeiro passo para estabelecer um bom relacionamento e atingir melhores resultados. Mas, qual é o melhor caminho para que essa via de mão dupla possa ter a qualidade de um asfalto novo? Não há regras, mas é fato que observar mais e falar com assertividade podem funcionar muito bem. O que eu quero dizer é para você interagir usando um radar de leitura do outro. Perceba as reações, veja os comportamentos, observe a linguagem corporal. Como essa pessoa parece ser? Ela é paciente ou impaciente? Direto ao ponto ou detalhista? Delicada ou ríspida? E a partir dessa análise, molde a sua comunicação para que a sua fala faça sentido para o outro. Afinal de contas, esse é o objetivo.
Exemplo:
O seu cliente é muito pragmático e gosta de resolver rapidamente as dúvidas.
Nesse caso:
Fale de forma mais sucinta e direta, mas passe pelos pontos cruciais.
Outro exemplo:
Você recebe uma pessoa que tem um perfil mais paciente, gosta de detalhes e de analisar todos os prós e contras.
Nesse caso:
Mostre todos os argumentos e apresente mais dados e informações que sustentem a sua fala, mas cuidado para não ser prolixo.
Cuide para que a sua comunicação seja agradável. Lembrando que esse conceito pode ser percebido de forma diferente por cada indivíduo. Por isso, a importância de compreender com bastante exatidão as atitudes da pessoa com quem você interage. Estabelecer conexão é um ponto importante para a criação de um vínculo sólido e duradouro. E isso vai facilitar o diálogo, o aconselhamento e a negociação.
2- Seja empático
Quando um cliente chega até você, certamente, ele carrega um problema que precisa ser resolvido. O que ele quer é uma solução. Mas, já pensou que ele também busca acolhimento? É aí que entra a empatia.
Empatia é olhar o outro com os olhos do outro. O que isso significa? Que você é capaz de compreender a dor de quem está na sua frente. Tão importante quanto ser eficiente tecnicamente é ser bom em relacionamentos. Por isso, saiba ouvir. Utilize expressões como “eu entendo o que você diz”, “eu compreendo você”. Ah, e lembre-se sempre de chamar a pessoa pelo nome.
A linguagem não-verbal também é muito importante no ato de se comunicar. Você transmite informações por meio de gestos, postura, expressões faciais, tom de voz. Quando você concordar com algo que o outro diz, mostre com um gesto afirmativo da cabeça. Evite as barreiras corporais como, por exemplo, o movimento excessivo de balançar as pernas, olhar para o relógio ou celular o tempo todo. Isso pode gerar uma impressão de pouco interesse na conversa e deixar o interlocutor pouco à vontade para estabelecer uma verdadeira conexão.
3- Elimine o “juridiquês”
Termos como deferir, jurisprudência, autos, petição, agravo, citação e tantos outros fazem parte do seu dia a dia. Mas, será que são compreendidos por todos? Quase sempre, não. São palavras que, normalmente, não são usadas pela maioria das pessoas.
Se você quer ser compreendido, troque esses termos técnicos por palavras mais fáceis de serem interpretadas no contexto do diálogo. É muito melhor adaptar o seu vocabulário e fazer a conversa fluir do que o seu cliente sair da reunião sem entender nada. É preciso ser claro e objetivo. Assim, você vai passar muito mais segurança e credibilidade.
Na prática, vejo que os profissionais do Direito se acostumam com os termos usados durante a sua atividade e, frequentemente, não percebem que a linguagem está pouco acessível. Para tornar a mensagem simples sem ser simplória é importante se perguntar depois de elaborar um roteiro da fala: O que isso significa? A explicação que você tem para dar é a mensagem que precisa passar.
4- Objetividade sempre
Quantas vezes você parou para avaliar qual é o seu objetivo ao transmitir uma determinada informação ou mensagem? Pode ser que a resposta seja “não muitas”. Sim, isso é comum. Pensamos no que pretendemos dizer, mas nem sempre no porquê queremos dizer. E ter a clareza dos seus “porquês” o ajudará a se expressar de forma muito mais objetiva e ir direto ao ponto. Selecione as mensagens que andam em sintonia com as motivações e intenções da conversa e procure não sair do contexto.
As pessoas consideradas prolixas, muitas vezes, são aquelas com um grande repertório de exemplos, que conhecem vários assuntos, são donas de um ótimo senso de criatividade e fazem conexão entre assuntos de uma forma incrível. Mas, essas habilidades que poderiam ser consideradas pontos fortes desses indivíduos podem prejudicar quando são usadas sem coordenação e organização. Por isso, é importante planejar o que vai dizer, dividir os assuntos em blocos de informações e seguir a linha de raciocínio. Cuidado com os parênteses no meio das frases. Eles são os atalhos que os prolixos encontram e se tornam armadilhas, pois, muitas vezes, a pessoa não consegue retornar ao ponto central.
5- Evite usar a palavra “não”
Preste atenção no que eu vou lhe dizer:
Não pense em uma maçã.
Agora, me diga e seja sincero. Em que você pensou? Tenho certeza de que pensou exatamente em uma maçã. Viu? Por que isso acontece? Porque o nosso cérebro tende a interpretar as ações e as imagens que são passadas pela mensagem e deleta completamente a palavra negativa que antecede a afirmativa. É por isso que, ao usar o “não”, você vai provocar exatamente o comportamento que deseja evitar.
É assim que a linguagem negativa funciona na nossa mente. E o erro não é de quem recebe a mensagem, mas de quem a transmite. Portanto, há formas mais assertivas de se comunicar. Tente expressar o que você pretende em vez do que você não quer.
Ao conversar, lembre-se de que o “não” é uma péssima escolha.
Evite dizer:
“Não se esqueça de enviar os documentos”.
Prefira:
“Lembre-se de enviar os documentos”.
Evite falar:
“Você não vai se arrepender de ter me contratado”.
Será melhor:
“Você vai ficar muito satisfeito em ter me contratado”.
Posso dizer que esse é um grande desafio na comunicação. Afinal, somos criados usando a linguagem negativa de forma muito frequente. É só lembrar da sua infância: não suba aí, não durma tarde, não se esqueça das suas tarefas…
Leia, reflita e aplique todas essas dicas no seu ambiente profissional. Se você se sente insatisfeito com a sua comunicação ou deseja uma qualificação a mais, saiba que essas competências podem ser aprendidas. Treine os seus pontos fracos e explore os seus pontos fortes. Tenha em mente que a comunicação é um diferencial que deve ser usado a seu favor.
Foto de capa: Pixabay